domingo, junho 19, 2005

Injusto

Queria dizer, muito brevemente, que isto da vida e da morte é muito injusto. Então não é que ligo a TV e ouço o senhor Gabriel Alves a dizer que os argentinos estavam a jogar um bom futebol e que estavam a defender bem! A frase em si não está mal construída. Aliás, não haveria mesmo nenhum problema com isso se o jogo não fosse um Brasil-México. Digam lá se gente assim não estava bem era morta? E depois quem morre é o Álvaro Cunhal. Não há justiça no mundo! Se bem que agora já há espaço para que outras pessoas possam ter sobrancelhas...

O que vale é que somos todos muito tolerantes

A cada dia que passa, penso: será que é de mim ou isto anda tudo parvo? Lembro esta questão sempre que vejo o nosso Presidente da República a fazer algo mais complicado que descascar uma banana, como, por exemplo, a dizer que não será tolerado o racismo, a xenofobia e o ostracismo. Além de ter mencionado estes três termos sem gaguejar, o que por si só demonstra um extraordinário trabalho a nível de dicção, parecia mesmo que ele sabia o que cada um deles queria dizer. Quer-me parecer que, ao fim de não sei quantos anos de presidência, o homem mostrou atributos que mereciam mais uns anitos de contrato. Bom, isto tudo porque a Frente Nacional decidiu organizar uma manifestação este fim-de-semana. Além de ser a imediata reacção ao episódio do “Arrastão” em Carcavelos (Devo dizer que gostei bastante do nome que deram à coisa. Aliás, quem por acaso estivesse fora do país ou isso, ao ouvir tal designação, ficava imediatamente a saber que se tinha tratado de um conjunto de assaltos desordenados, protagonizados por 500 indivíduos que entraram na praia e que semearam o caos.), a manifestação visava sobretudo alertar para o aumento da criminalidade protagonizada pelos gangs. Antes de mais, acho que a manifestação não podia ter ocorrido em pior altura. Dias antes, em Lisboa, gritavam-se coisas como “A luta continua!” ou “Assim se vê a força do PC!” ou ainda “Cunhal, amigo, o povo está contigo!” ou então ainda, com menos entusiasmo, é certo, “Porra, pá!”. Porém no fim-de-semana, em vez de “luta” e “Cunhal”, gritava-se em Lisboa algo como “Vão para a vossa terra!” ou “Ponham-se a andar!”, o que me parece de mau gosto. Isso é gozar com o trabalho do homem. Andou ele não sei quantos anos a lutar pela democracia e, ao morrer, vem alguém da extrema-direita e diz:

“Democracia? Sim, conheço o termo! Tem a ver com a liberdade de expressão da malta branca, não é?”

Ora bem, estes manifestantes, além de anunciarem que a manifestação iria ser um acto pacífico, não se consideram racistas. Aliás, houve um manifestante em particular que disse algo como:

“Eu, racista? Não! Nem pensar nisso! Eu defendo os interesses da etnia branca, mas não sou racista. Aliás, para mim tudo o que não é branco era mas é queimado vivo. Mas não sou racista! Racista? Mas está brincar comigo?”

E isto chocou a malta. Chegaram mesmo a dizer-me que isso era quase tão contraditório como o Cláudio Ramos insistir que gosta de mulheres. Vamos lá ver uma coisa: não é preciso chegar a extremos. Uma coisa é não gostar de outras etnias ou apetecer-lhe muito que fosse inventada uma bomba que matasse tudo o que não fosse branco, outra coisa muito diferente é ser-se racista. Não vamos comparar as duas coisas. Mais um bocadinho e diziam que o Hitler andou a matar judeus. Aliás, das imagens que vi e das entrevistas que fizeram, vi sobretudo malta ajuizada, muito consciente daquilo que se entende por “liberdade”. Estou até capacitado, depois disso, a dizer que aquilo era uma manifestação de meninos bem-educados, que valorizam a diferença de culturas e que fazem da inteligência a sua maior arma (isto, claro, se não houver à mão um cocktail molotov). Portanto, Tolerância foi a palavra de ordem. Ou terá sido “Pretos de m****, vão todos para a p*** que vos p****”? É que com o barulho, como são foneticamente idênticas, não consegui perceber muito bem. Ainda por cima, são dois conceitos em tudo iguais. Enfim, a manifestação até correu mais ou menos bem, pois a polícia impediu que o pessoal que estava de fora a assistir se insurgisse contra os manifestantes. E é isto que eu não percebo! Que reacções foram aquelas? Estavam os manifestantes a dizer coisas bonitas e queriam logo bater-lhes? Mas o que vem a ser isto? Já ninguém pode fazer nada? Já não se podem mandar os marroquinos de volta para o Sahara que se é acusado de xenofobia? Daqui a nada vão dizer que essa rapaziada pacífica que são os americanos anda por aí à parva a matar muçulmanos por esse mundo fora e que isso não se pode fazer, não? Vamos lá ver as coisas como deve de ser, não é? O pessoal foi para ali manifestar-se contra a criminalidade e acabou rotulado de racista. Não é justo! Um testemunho que eu gostei foi de um rapaz que disse qualquer coisa como isto:

“O Afonso Henriques correu com os mouros daqui, portanto, agora também devemos correr com a estrangeirada toda, à excepção das suecas, das checas e das holandesas, porque essas fazem uns fellacios à maneira. Ah! E as húngaras também não porque têm bigode e aquilo até é fofo!...”

Não terá sido bem assim, mas pelo menos a parte do Afonso Henriques era semelhante. Esta frase diz-nos essencialmente que aquela treta do “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” que o ignorante do Camões andou a escrever não tem fundamento, já que somos exactamente o mesmo povo bárbaro de antes. Ou talvez seja mais profundo que isso. Acho que, afinal, ainda estamos no século XII, apesar de nos andarem a dizer o contrário. Mais concretamente, devemos andar aí a meio do século XII, para aí na altura em que o tipo conquistou Lisboa. Eu tenho até uma teoria que o Sócrates é o Afonso Henriques. Está é disfarçado, que é para enganar os mouros. Portanto, isto tudo é mentira e temos que nos unir para expulsar esses infiéis daqui para fora. Por isso, como afinal o ano não é 2005, mas 1147, essa malta que defende a igualdade de direitos esteja mas é calada, que essa treta só vai ser inventada daqui a uns sete ou oito séculos! E, até lá, ainda temos que ir à Terra Santa fazer uns quantos genocídios, ainda temos que conquistar o Mundo Novo e exterminar os tipos que pensam que aquilo é deles, ainda temos que inventar uma coisa fascinante que nos permite enriquecer enquanto os outros trabalham para nós que é a escravatura e ainda temos que gasear uma data de malta em campos de concentração. Portanto, enquanto esses tempos chatos não chegarem, deixem-nos ser intolerantes, porque a tolerância é a principal culpada pela criminalidade hoje em dia. Ou será a falta de educação? Não, nada disso! Inteligência? Diferenças entre classes sociais? Também não. Nem pensar nisso. O verdadeiro problema é a cor da pele, os costumes e o Deus em que se crê. Isso sim...

terça-feira, junho 07, 2005

Novas regras

Soube que foram apresentadas novas medidas reguladoras para o futebol, que vão entrar em vigor a partir da próxima época. Do que pude apurar, estas medidas consistem, grosso modo, numa grande estupidez. Importa salientar, portanto, que as pessoas que estiveram à frente disto, excepto se tiverem sido induzidas em erro e julgassem que estavam a tratar da nova regulamentação dos cem metros barreiras, são estúpidas. Se não vejamos... As entradas perigosas, quer sejam por trás, pela frente, de lado, ou, se o infractor for o Keanu Reeves, por cima, passam a ser sancionadas com um cartão vermelho. Em relação a esta medida, a minha pergunta é: Além de permitirem a entrada em campo de atletas claramente dopados como o Keanu, afinal qual é a alteração? Se isto é uma alteração, pressuponho que até aqui eram permitidas entradas que colocassem em perigo a integridade física do adversário desde que não fossem por trás. Além disso, permitia ao infractor o seguinte discurso:

“É verdade que lhe parti a perna em múltiplos locais, que lhe desloquei a bacia e lhe dei um beliscão, mas a entrada, se não foi de frente, foi no máximo quinze graus para a esquerda. Logo, mais que um amarelo é claramente dualidade de critérios.”

Outra medida inteligentíssima foi a do fora-de-jogo. Para ser sincero, mais depressa entendo o que Luís Filipe Vieira quis dizer quando anunciou que o Benfica queria ser campeão europeu do que entendo esta medida. A alteração foi basicamente esta: todas as partes do corpo do jogador, à excepção dos braços, que se encontrem à frente da linha da bola e que tenham apenas um jogador adversário depois delas estão em fora-de-jogo. Isto, segundo as pessoas que pensaram esta lei, vinha facilitar o trabalho dos juízes de linha. Na minha opinião, estas pessoas são estúpidas. Além disso, são também estúpidas. Se os homens da bandeirinha, já com a graduação adequada, não conseguiam analisar lances evidentes de fora-de-jogo, como é que agora, de um momento para o outro, vão ter capacidade para perceber se o braço do Hélder Postiga estava à frente da linha de defesa ou se a orelha direita do Luisão (e sabe Deus o tamanho daquilo) se encontrava em linha com a defesa, ou mesmo se o testículo mais pequeno do Liedson, aquando do passe do pé direito do Rochemback, estava em posição irregular? A não ser que se coloquem chips também em cada uma das partes do corpo de cada jogador, não estou a ver isto a resultar. Além disso, jogadores como o Maniche, cujo nariz atinge proporções consideráveis, estariam irremediavelmente em fora-de-jogo, mesmo que se encontrassem na grande área defensiva.

Outra medida interessante é a que proíbe os jogadores da equipa que acabou de marcar golo de irem buscar a bola dentro da baliza. Isto, na minha opinião, revela que as pessoas que tomaram estas medidas são estúpidas. Se isto for de facto para a frente, aparecerão casos como este:

A equipa que perde acaba de marcar um golo, colocando o resultado em 2-1. Os jogadores que sofreram o golo permanecem quietos e os da equipa adversária não podem ir buscar a bola. O árbitro decide intervir:

Árbitro: “Senhor capitão, importa-se de ir buscar a bola dentro da sua baliza?”
Capitão: “Agora não me apetece. Estava a pensar ir fazer as unhas e depois tenho que ir ao controlo anti-doping.”
Árbitro: “E não pode pedir a nenhum dos seus companheiros que o faça?”
Capitão: “Poder, até posso. Acontece que todos eles são surdos e eu não sei linguagem gestual.”

Portanto, caso o árbitro também não saiba linguagem gestual, temos um caso complicado. Resta saber se essa lei se aplica ao juiz da partida e se ele também se encontra proibido de entrar na baliza para ir buscar a bola. Nesse caso, era importante saber quem o advertiria com o respectivo amarelo. Na minha opinião, era ele mesmo que se auto-admoestava, fazendo-o na direcção de um espelho que o quarto árbitro se encarregaria de providenciar.

Não sei se já disse, mas considero estas pessoas estúpidas. Tomaram ainda outras medidas que não vale a pena mencionar aqui. Também não quero enxovalhar ninguém. Tirando a cena de experimentarem a bola com um chip integrado que permitirá perceber se a bola ultrapassou a linha de golo ou não, todas estas medidas redundam numa enormíssima estupidez. E isto remete-nos imediatamente para o carácter destas pessoas, que são obviamente estúpidas. Eu não sou entendido nestas coisas, mas tenho uma medida que julgo que resultaria: que tal se metessem a tratar disto pessoas que não fossem estúpidas? Até porque, segundo consta, aquando inquiridos pela imprensa sobre estas novas medidas, estas pessoas tiveram a seguinte reacção:

“O quê? Futebol? Então mas isto não era o conjunto das novas leis de base para o ensino superior? Querem lá ver que andámos este tempo todo a cansar o cérebro e isto afinal tinha a ver com cavalos com arções e paralelas assimétricas?”

Desafio, depois disto, a provarem que estas pessoas não são dotadas desse singular dom que é a estupidez...

sexta-feira, junho 03, 2005

O projecto dele...

Bom, é costume expressar aqui o meu descontentamento ou a minha irritação para com o mundo ou para com alguma situação particular. Porém, hoje venho aqui expressar esse peculiar sentimento, já sentido por todos nós pelo menos uma vez, que se tem quando se pisa... como hei-de explicar... aquela coisa viscosa, que exala um odor deveras repugnante, que um qualquer cachorrito fez o favor de deixar no passeio. Se bem que assim pareça, não venho falar de merda, mas de política. Muitos de vocês dirão: “Olha, olha! Então e não é a mesma trampa, ó imbecil?” E eu respondo: “Sim, mas e que tal se me deixassem acabar?” Enfim, estava eu a dizer que ia falar de merda. Ah, não! Era de política, é isso. Nada de confundir conceitos. É que esse é um dos males da nossa sociedade: todos confundem alhos com bugalhos (o que quer que seja um bugalho). E se começamos a confundir política com merda, não saímos daqui nós, nem sai o país do buraco onde está. Bom, com esta, são 4 as vezes que mencionei a palavra “merda” neste post, o que para um blog declaradamente contra palavrões e obscenidades (basta olhar para a candura do seu nome), é demasiado. Felizmente, não usei ainda tanto a palavra “política” como a palavra “merda”. Se assim fosse, era preocupante. Para evitar, a partir de agora, o emprego de tais vocábulos, por provocarem, tanto um como outro, uma sensação de náusea no leitor, designarei ambos por “religião”, que é um termo neutro e sem conotações a nenhuma das outras palavras. Contudo, como também não voltarei a usar esse tipo de léxico, todo o preâmbulo anterior foi desnecessário. Do que eu queria mesmo falar era da campanha de Manuel Maria Carrilho para a Câmara de Lisboa. Eu sei que disse que não voltaria a falar em merda, mas o que tem de ser tem de ser. Antes de mais, queria dizer uma pequena palavrinha à esposa do senhor em questão: “lentes de contacto”. Depois, a propósito deste polémico assunto, queria ainda acrescentar que mais feio que a saga televisiva da Praça da Alegria é a heterossexualidade por conveniência. Pronto, posto isto, gostaria de lembrar que uma das promessas do PS na campanha eleitoral anterior, que venceu com toda a distinção e sem ela, foi rejeitar a tradição máscula de culpar o governo anterior de todos os problemas que lhe apareciam pela frente, usada provavelmente desde que o mundo é mundo, e assumir as responsabilidades dos seus actos, como fazem as pessoas crescidas. Ora, parece que o senhor Manuel Maria Carrilho tem, além de problemas de identidade (pois tem dois nomes próprios e, mais grave, um masculino e um feminino), um pequenino problema de memória. Não é que o seu slogan é qualquer coisa do género:

“Projectos com princípio, meio e FIM.”

O ênfase é meu, mas será que sou o único a notar aqui uma provocação feroz e, diria eu, infantil, ao insigne trabalho do anterior autarca? Parece até que já estou a ver, reagindo a isto, a resposta do Santana, bem semelhante às célebres indirectas da campanha eleitoral:

“Posso até deixar tudo a meio e só ter cabelo das orelhas para baixo e tal, mas pelo menos faço xixi de pé!”

Frustração

Hoje acordei como uma vontade enorme de gritar, enquanto corria todo nu pela casa, por um homem másculo, de porte atlético e inteligência mediana. Não imaginam a minha frustração quando descobri que eu não era nem a Ana Afonso na quinta, nem tinha Infante no nome e fantasias com ministros com nomes de filósofos...