terça-feira, fevereiro 28, 2006

Carnaval

Antes de tudo, quero dizer que isto hoje vai ter que ser breve, pois eu à meia-noite quero ir ver se abro os presentes. Bom, é Carnaval, ninguém leva a mal? Mas ninguém leva a mal o quê? Que raio de provérbio – perdão – dito popular é este? Eu, por exemplo, levo a mal a mania que os portugueses têm de fazer rimas. Não têm mais nada com que brincar? É Carnaval. Vão para a rua sambar, vistam ceroulas, façam o que quiserem, mas não me digam que ninguém leva a mal, porque eu levo! Enfim, Portugal é um país de tradições fortes e este ano descobri mais uma. Pessoalmente, já andava farto de ver reportagens do Sambódromo do Rio de Janeiro. É sempre a mesma coisa. Mulheres semi-nuas a transpirar, coisas a saltar, máscaras parvas, coisas a saltar, alegorias, coisas a saltar, samba, coisas a saltar… Sinceramente, isso já cansa. Quero é folia! Então, este ano, descobri que em Portugal, mais propriamente num sítio chamado Lindoso, temos uma tradição bem mais apropriada ao Carnaval que a tradição brasileira. Chama-se o “Desfile do Pai Velho”. Em poucas palavras, não há samba, mas há bailarico. Não há coisas a saltar, mas há peles engelhadas. Não há carros alegóricos, mas há dois carros de bois. Não há máscaras parvas, mas há gente parva. Ainda dizem que os portugueses não são divertidos. Ai não que não são! Eles até tinham um boneco mascarado! E aposto que havia um velhote malandro, talvez o mesmo que apareceu na televisão, com uma máscara à Clark Kent, com uns óculos escuros só com uma lente, que tinha no bolso uma serpentina prontinha a usar. Não se divertem, não! Está bem, está! Somos tristes, somos! Como disse outro velhote do Lindoso, “somos “pauco” divertidos, somos!!” Ai, ai, que bem disposto é o Carnaval em Portugal! Para mim, então, é óptimo. É o único dia do ano em que ninguém goza comigo por sair à rua com as unhas pintadas. E agora que se faz tarde, vou mas é andando que ainda tenho que ir provar o folar…

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Dia dos Namorados

Amanhã é dia dos namorados. Dia grande para quem namora e também para quem não namora, mas que ganha dinheiro à custa de quem namora. Para quem não namora e não ganha dinheiro à custa de quem namora, é um dia como outro qualquer. Quer dizer, se calhar para quem namora e para quem não namora, mas que ganha dinheiro à custa de quem namora, também é um dia como outro qualquer. A diferença é que namoram ou que ganham dinheiro à custa de quem namora. Enfim, é dia dos namorados. Já disse que se trata de um dia grande para quem namora e também para quem não namora, mas que ganha dinheiro à custa de quem namora? Não, pois não? Também não vale a pena. Quer dizer, se eu fosse Quéfrô, que é das profissões mais honrosas que pode haver, só trabalhava no dia 14 de Fevereiro e tirava férias o resto do ano. Como não sou e como corro o risco de perder quem me lava a roupa, decidi oferecer algo à minha parceira. Comprei uma luva e uma lima para raspar os calos...

Contra-ataque

Os muçulmanos decidiram retaliar e foram publicadas caricaturas do Holocausto. Não sei o que pretendem com esta atitude, mas eu estou um pouco preocupado com a resposta ocidental. Agora sim, as coisas azedaram. Temo até o início de uma guerra de balões de água e um renhido campeonato de Mikado.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Jihad

O tipo de pessoas que eu mais admiro, a seguir àquela malta com paciência de santo que tem por trabalho fazer confetis, são aquelas para quem a liberdade é coisinha muito bonita, desde que não as incomode. Como costumo ser pouco claro naquilo que digo, estou a falar de gente para quem um “cartoon” é motivo de Jihad.

Antes de mais, esta malta tem um passatempo que eu adoro. Acontece apenas uma vez por ano, durante o Haj, que é uma festa tipo Páscoa, mas sem ovos de chocolate. Trata-se de apedrejar pilares de pedra, o que, no fundo, é uma versão mais sofisticada do célebre desporto de raíz judaico-cristã que foi inaugurado com o apedrejamento de Maria Madalena. A diferença principal subsiste no facto de os pilares não gritarem e de não se ganhar o jackpot caso se acerte na cabeça. Este evento, para quem desconhece, é bem mais fervoroso que o futebol. Não há hooligans, nem confrontos de claques, nem tragédias em Heysel, mas, em compensação, há trezentos e tal mortos por ano. Eu não conheço as regras, mas creio que o objectivo do jogo é esborrachar as pedras contra os pilares, enquanto se procura não se ser esborrachado pela multidão.

Mas isto foi só um aparte. Aquilo que é notícia agora é a revolta muçulmana contra os “cartoons” dinamarqueses. Parece que fizeram um boneco de Maomé com uma bomba no turbante. Eu acho mal e compreendo a revolta dos tipos. Maomé, sendo o Profeta, jamais poderia ser desenhado com uma bomba. Então e depois quem é que dava as instruções aos outros homens-bomba? Se ele era o líder da malta, não se podia matar. Logo, é óbvio que tais desenhos sejam censurados, já que não correspondem à realidade. Além disso, ouvi um certo líder islâmico do nosso país a dizer que quem fazia aquele tipo de desenhos era inculto, pois não sabia que o Islão era apenas a paz, que só uma minoria é que era fanática, e que com as coisas sagradas não se deve brincar, pois é uma falta de respeito. Ora, vou comentar cada um dos argumentos deste senhor, que julgo serem os argumentos de todo o Islão.

Em primeiro lugar, os “cartoonistas” em questão são claramente tipos incultos porque Maomé, embora tivesse a intenção mandar pelos ares cada infiel, não o poderia fazer, uma vez que, no século VII, a pólvora ainda não tinha sido inventada e, como tal, não havia explosivos.

Depois, é claro que o Islão é a Paz. Aliás, qualquer religião, no seu âmago, pretende a paz. Basta olharmos para a História da Humanidade. Na Grécia antiga, os deuses não tinham nada a ver com a guerra. Nem sequer era por eles que se pelejava; nem sequer havia um deus próprio da guerra. O estúpido do Homero devia ser era ateu, para pôr os deuses a lutarem uns contra os outros, a favor de cada uma das facções em conflito. Mais tarde, quando os Cruzados decidiram ir libertar a Terra Santa, também não dizimaram populações inteiras. As oito Cruzadas foram apenas alegres jantares-comício dos líderes cristãos em terras habitadas por muçulmanos. E é óbvio que, hoje em dia, os Palestinianos rebentam com tudo e mais alguma coisa apenas pelo efeito artístico da coisa. “Ah, que bela obra de arte! Vou-lhe chamar “O Pulmão que voa!””. “Xiii! Lá vai um braço de um israelita!” “De quem seriam os intestinos que ficaram pendurados naquela varanda?!” Meus amigos, o Islão é a Paz. O que acontece é que, como não a têm, decidem explodir com tudo e mais alguma coisa. Mas é a Paz…

Sim, e é óbvio que o terrorismo é coisa de minorias e que só um ou dois é que defendem as suas crenças através da violência. Se não fosse esse o caso, já teriam acontecido Intifadas. Lá está, fazem do Islão uma religião de fanáticos, mas isso não é verdade. Existem muçulmanos pacíficos. Ainda não sabem muito bem onde, mas existem. São tudo tipos que aceitam as coisas na boa: daí nunca terem perseguido o Salman Rushdie pela publicação dos Versículos Satânicos. E depois, qual fanatismo, qual quê? A religião deles até permite que as mulheres mostrem os olhos…

Finalmente, também concordo que não se deve brincar com coisas sagradas. Aliás, com coisas sagradas, com doenças, com deficiências, com a morte, etc… E porquê? Porque são assuntos delicados. “Coitadinho do deficiente! Já lhe basta a sua deficiência para se sentir inferiorizado. Não vamos enxovalhá-lo!” Por isso, em vez de se fazer humor, ignora-se essa pessoa, que é sem dúvida um acto muito mais filantrópico. E o mesmo se passa com as coisas sagradas. O problema da religião, qualquer que ela seja, é julgar-se acima de tudo. E como se julga intocável, não aceita que a ponham em causa. “Ah, Maomé! Sim, senhor, é o nosso querido Profeta! E que ninguém ouse brincar com o seu nome, pois é sagrado!” Ao brincarem com as coisas sagradas da sua religião, salta-lhes a tampa? E ainda assim não são fanáticos? Sim, são gente de paz, mas que não gostam que se diga mal daquilo em que acreditam. Afinal, qual é a diferença entre estes sujeitos e os líderes de uma claque?

A arte está acima de tudo. E o humor, como arte que é, tem o poder de afectar tudo, sem excepções. Quem acha que uma caricatura é uma forma de desrespeito, também achará, certamente, que tem o direito de bombardear a casa de cada adepto de outro clube que não o seu, uma vez que estes não partilham, de certeza, do mesmo amor que ele. Uma vez que este texto se trata, exactamente, de uma caricatura das pessoas que não gostam de caricaturas, nomeadamente todos os que têm uma religião (neste caso específico, os muçulmanos), essas mesmas pessoas – acredito – vão, a partir de agora, fazer-me a vida negra. A questão que se põe é: rebentam-me com o carro ou mandam-me uma carta a dizer que vão cortar a electricidade?