terça-feira, março 21, 2006

Queremos é música, s’il vous plait...

Bom, este blog tem alternado entre textos maus e textos muito maus. Como tal, proponho-me a escrever o primeiro texto péssimo. Começo por dizer que o meio musical é um meio podre. Há quem diga que é um fim podre, mas eu não creio. Creio que é um meio podre. Ou será um princípio podre? Não, é um meio podre, é! E acho que é um meio podre porquê? Basicamente porque sim. E também porque não faço parte dele. Além disso, quando um grupo está a atravessar uma boa fase, é comum dizer-se que esse grupo anda na berra. Ora, meus amigos, andar na berra é coisa de gente ruim. Andar na berra é quase o mesmo que pertencer a um gang do Multibanco; é transgredir a lei e fazer pouco dela. Eu, quando me sinto feliz, não vou para a rua a dizer: “Olhem para mim, ando na berra!” Não, isso é errado. Alguém que ande na berra arrisca-se até a ser discriminado. Uma banda dá dois concertos e aparece logo alguém a dizer: “Estes tipos andam na berra.” É errado e é má propaganda. É isso e andar na crista da onda. Toda a gente sabe que o lugar dos peões é no passeio e não na berra. A propósito disto, segundo parece, anda aí um grupo na berra que de original tem pouco. Além de, às vezes, parecer que cantam, arranjaram um nome que é uma autêntica afronta aos Mesa. Falo, é claro, dos So’ bremesa! Enfim, este grupo faz as delícias dos pequenotes e até das pequenotas. Aquilo que me vem à cabeça, assim de repente, é: “Será que no futuro, daqui a uns bons quarenta anitos, o nosso Primeiro-Ministro será um tipo que passou a infância a ouvir cantar um gajo chamado Zé Milho?" Apesar de a economia estar a dar os primeiros sinais de retoma, não se augura um futuro brilhante para o nosso país. Já a pensar nisto, eu tenho uma sugestão. Que tal fazermos uma OPA (mais uma coisa que anda na berra) aos D’ Zrt (nome traduzido por questões de marketing) e depois mandarmos cada um dos seus elementos para um paraíso tropical, por exemplo, para um sítio onde houvesse animais meiguinhos como piranhas. Ainda que ficássemos sem hino nacional, o célebre “Para mim tanto me faz”, as nossas crianças teriam uma oportunidade para crescerem como homens. E quer-me parecer que isso é positivo. Isto agora sou eu a especular, mas estes moços não foram actuar a França? Se calhar, não! Mas dá-me jeito que tenham ido. Por que razão acham que os estudantes franceses têm arranjado tanta confusão? Pensavam que os tumultos tinham a ver com a nova lei do emprego? Qual quê! Souberam da existência de uma “boysband” com nome de parte de refeição e exaltaram-se, pois claro! “Então mas nós não temos direito a música? Se nos querem escravizar, tudo bem. Mas queremos contrapartidas, s’il vous plait… Dêem-nos os D’ Zrt, ou damos cabo disto tudo!”

sábado, março 18, 2006

Oooopsss… Esqueci-me!

Segundo um estudo feito por não sei quem, os portugueses esquecem com frequência o “pin” do cartão Multibanco. A primeira pergunta que me ocorre é: Há gente a ser paga para tentar saber se os portugueses têm por hábito esquecer o código de um cartão? Eu também quero um trabalho desses. Aliás, sempre quis tentar descobrir quantos passos, em média, dá um português desde que se levanta da cama até chegar à casa de banho. Segundo outro estudo, feito por americanos – o que é sempre mais fidedigno – aqueles que tentam saber se os portugueses se esquecem ou não dos números de código ainda andam à procura do primeiro emprego a sério.

Mas o importante desta notícia foi, portanto, ficarmos a saber que os portugueses, muitas vezes, esquecem quais os quatro números que os separam do seu próprio dinheiro. Isto revela, ao contrário do que se possa pensar, que somos pouco agarrados ao dinheiro. “Ah! Esqueci-me outra vez do “pin”! É a quarta vez esta semana. Também não faz mal: logo chego a casa, vejo o número e amanhã já poderei levantar dinheiro para almoçar.” Contudo, pode também revelar, segundo teorias menos exactas, que somos um povo abestalhado a quem um simples algarismo de quatro dígitos provoca enxaquecas.

Depois de relatados os resultados do estudo, os repórteres televisivos – gente dotada de bom senso – foram para a rua perguntar a quem passava se já lhe teria acontecido uma situação dessas. E, para meu espanto, o resultado do estudo estava correcto e muitos foram os que assumiram que, sim senhor, já se tinham esquecido do “pin” uma ou outra vez. Ao que eu pergunto: Mas esta malta usa a memória para quê? Lembrar-se-ão, porventura, do local onde trabalham? Ou que são casados? Será que vão à padaria e têm reacções do género: “Ah! Mas o que é que vim aqui fazer às seis da manhã? Ainda nem amanheceu e eu já estou de pé? Mas como é que vim aqui parar? Quem são estas pessoas? Por que é que estão cheias de farinha? E este cheiro? Reconheço este cheiro! Cheira a pão com chouriço! Que terei vindo fazer à Feira Popular?” Saberão, estes senhores, que têm o poder de arquivar recordações na sua cabecinha para que, mais tarde, possam usar esses conhecimentos? Não creio. Acredito até que diálogos como este sejam recorrentes: “Olha, Chico, hoje quase me lembrei do meu nome! Pode ser que amanhã consiga.” E responde o outro: “Pára de me chamar Chico, pá! Já te disse que o meu nome é Agostinho! Ou será Bernardo?”

Apesar de se esquecerem de coisas essenciais, tenho a certeza que os portugueses se lembram, seguramente, de outras coisas. Não sabem o número do “pin”, mas aposto que sabem dizer, sem gaguejar, quantos casamentos e quantos divórcios a Elsa Raposo já teve. E se recordam, com facilidade, coisas destas, poderiam aproveitar para usá-las como “pin”. Por exemplo: “Que chatice! Esqueci-me novamente do “pin”. E agora? Espera! Eu sei que o meu “pin” é igual ao número de hematomas no corpo da mulher do Artur Albarran! É isso! O meu pin é o 6046, é isso mesmo!” E assim se resolveriam muitos problemas. Aliás, foi a essa conclusão que chegaram os ditos repórteres. Maior parte das pessoas inquiridas usa como “pin” uma data importante. O que é grave é que, mesmo assim, continuam a esquecer-se. Outros há que, para não se baralharem, usam o mesmo código para tudo. Ou seja, usam o mesmo código como “pin” do Multibanco, como “pin” do telemóvel, como “password” de acesso ao computador e como combinação do cadeado da bicicleta. O problema disto é que esquecendo esse código único, esquecem tudo. Além de ficarem sem dinheiro, sem acesso ao telemóvel ou ao computador, ainda ficam – e isto, sim, é grave – impossibilitados de andar de bicicleta.

Agora, o que me causou realmente aversão, para não dizer repulsa ou asco, ou até mesmo nojo, foi o orgulho com que esta malta afirmou que se esquecia, sistematicamente, de um simples número. “Ah, eu esqueço-me do número! Sou bom, não sou?” Não terão vergonha? Dão até a ideia que ser esquecido é uma qualidade nobre. “Eu sou uma pessoa tão notável que, de vez em quando, esqueço-me que sou diabético e que não posso comer três pacotes de marmelada seguidos.” Ou seja, o português não lamenta a falta de memória. O português inverte a questão. O português envaidece-se por ser esquecido. De repente, esquecer-se de levantar o prémio do Euromilhões deixa de ser estúpido. Não houve um que dissesse: “Olhe, na verdade, eu sou uma besta! Esqueço-me, duas vezes por dia, de tomar os medicamentos que o médico me receitou e que, segundo a prescrição, são para tomar, curiosamente, duas vezes ao dia. Esqueço-me de urinar, depois de já me ter esquecido que sofro de incontinência. Sou tão esquecido que você nem imagina. Outro dia, fui num instante aos correios e esqueci-me do coelho no banho e do bebé ao lume. Sou um despistado de primeira. Estou sempre a olvidar-me (como este indivíduo é produto da minha imaginação, apetece-me dizer que se olvidou e não que se esqueceu, que é para mostrar que até percebo alguma coisa de sinónimos) das vírgulas entre o sujeito e o predicado, que até parece que sei escrever em português. Tenho muita vergonha do que sou. Já tentei acabar com este sofrimento, mas esqueci-me de suicidar-me. Não tenho nada, esqueço-me de tudo. Sou um pateta.” Isto deveria ser a atitude do português comum. Ou a do Mário Soares. Mas não. O português é tão chico-esperto que faz da imbecilidade uma virtude.

Enfim, mas nem todos os portugueses são esquecidos e isso é que importa. No que me diz respeito, ainda bem que não sou assim. Já viram o que era, de repente, esquecer-me que estava a falar do ritual de acasalamento do grilo ibérico?