Um quarto de século e mais dez anos depois, saí à rua. Para mim, era Sábado. Estranhamente, não se via vivalma. Nem mortalma, por sinal. Pensei: "Queres ver que o Casimiro dos Plásticos morreu e foi tudo ao funeral?" Mais à frente, caí em mim. Esquecera o boletim do Euromilhões nas outras calças? Não. Aliás, vestia saiote. O que me veio à memória foi que hoje não era só Sábado; era 25 de Abril. Começou a fazer sentido o facto de não haver ninguém nas ruas. Imaginei, portanto, que andava tudo em manifestações pela liberdade, ou em comícios do PC, ou simplesmente em casa a não fazer nenhum, possibilidade que foi a grande consequência daquela festa de cravos que todos os anos lembramos. Duas horas mais tarde, descobri que não. Afinal, as pessoas estavam todas era enfiadas no Pingo Doce. Havia filas até ao car****. Até à parte dos congelados, mais ou menos. O que faz sentido - diga-se. Comemorar a democracia a gastar dinheiro é sempre uma boa ideia. O Cunhal, por exemplo, ficaria felicíssimo, se estivesse a ver isto. Para terminar o dia, só faltava mesmo uma demonstração de autoridade arbitrária. Aconteceu uns minutos depois. O polícia que conduzia um carro-patrulha esqueceu-se que é um condutor igual aos outros e, segundo o código da estrada, tem de parar nas passadeiras quando há peões a querer passar. Não parou. Mas fez-me adeus. Já não é mau.
P.S. Por que é que a planta associada ao 25 de Abril é o cravo e não o salgueiro?