quinta-feira, dezembro 29, 2005

Ainda bem que sou português

É verdade, não são boatos: hoje senti-me finalmente orgulhoso por ser português. E tudo graças a quem? A Almeida Garrett, meus amigos. E quem é ele, perguntais vós? Posso garantir que não era nenhum daqueles bravos escuteiros que se perderam ontem na Serra da Estrela e que, intrépidos até ao fim, cantaram para ignorar o desespero. Para aquilo que o Almeida fez não era precisa tanta coragem. Então não é que este saudoso ícone da nossa pátria tem uma casa para os lados de Campo de Ourique, na qual nasceu e morreu, e que está ao abandono?! Pois é! E querem lá ver que a autarquia pretende demolir o prédio, rejeitando uma ideia estúpida e visivelmente inapropriada de transformar o edifício numa casa-museu! Assim é que é trabalhar! Qual era o rendimento que um projecto desses dava? Qual casa-museu, qual quê! Vamos é transformar património histórico-cultural em moradias! A esta notícia eu reagi com alguma preocupação, uma vez que demolir por demolir vai contra os princípios professados pela minha religião, mas como me garantiram que não seria um simples prédio, que, além de apartamentos, teria ainda uma garagem, eu até compreendi. E depois, quer dizer, já têm problemas que chegue em Campo de Ourique! Sempre há dois cinemas para restaurar… Sempre ouvi a minha mãe dizer, coisa que a mãe dela lhe tinha dito, certamente, que não se pode ter tudo. E é verdade! Entre dois cinemas e uma casa de um dos mais importantes escritores da nossa língua, é óbvio que a preferência recai pelos cinemas. É claro que, findada a notícia, fiquei bastante contente com a minha nacionalidade e dei graças a Deus por não me ter feito nascer em Abidjan e também à minha mãe por não me ter tido fora do país nem me ter concebido com um macaense. É que agora posso dizer, com todo o orgulho, que sou da mesma fibra que certos visionários que vetaram a construção da casa-museu de Almeida Garrett para construírem um prédio onde vai viver, provavelmente, a nata do nosso país, ou seja, um reformado balofo que não faz nada da vida além de blasfemar contra árbitros e contra vilões de novelas, um aleijado que demora dois dias e uma manhã para vir ao rés-do-chão ver o correio e uma velha mexeriqueira que anda de pantufas lilases o dia inteiro e que tem fantasias sexuais com o leiteiro. Mas pronto, ao menos vão ser inquilinos com garagem. Já diz ditado: mais vale um português com espaço para arrumar o carro, que um português inteligente.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Oi?

1:16 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home