segunda-feira, agosto 15, 2005

Piada

Isto do humor é muito simples: ou se tem piada, ou não se tem piada. Há também aqueles que têm piada, mas que não sabem, ou aqueles que não têm piada, mas que pensam que têm. Há ainda os que têm piada assim-assim, ou aqueles que têm piadas fraquinhas, ou aqueles que têm piada só às vezes. Isto para dizer que o que se faz aqui, neste preciso lugar, não tem nada a ver com humor. Por isso mesmo, escusam de se rir. Isto é apenas uma espécie de salada de alface e agrião temperada com vinagre, nada mais que isso. E eu sei que não é fácil, mas convençam-se que uma salada do género, apesar de rica em ferro, é muito pobre em termos humorísticos. Como tal, e como a ideia era que isto fosse uma coisa que pusesse a malta bem disposta, que provocasse, pelo menos uma vez, uma ténue risada, a partir de hoje este blog passará a ter piada. Para isso, bastará apenas que se convençam de que isto tem piada. Nada mais fácil! Chegam aqui e dizem: “Ah! Que piada que isto tem! Vou já rir antes de começar a ler que é para não perder embalagem.” E começando assim, acreditem que conseguem rir como maluquinhos durante bastante tempo. Se conseguem acreditar que – como vêm dizer para a televisão certos entendidos – os incêndios florestais se ateiam a si mesmos, também conseguem mentalizar-se que isto tem piada. Por acaso, outro dia até me cruzei com um incêndio e percebi logo o que ele andava a tramar. Mais tarde, fui encontrá-lo a fumar e, com os meus próprios olhos, vi-o arremessar a beata ainda incandescente para um arbusto que dizia, se bem me lembro, “Porra, lá vem outro incêndio com ideias incendiárias! O que dava jeito agora era um humano para fazer o que eles fazem melhor, que é combater incêndios.” Enfim, isto não terá nunca, obviamente, uma competência humorística superior à competência dos bombeiros voluntários da Póvoa do Lanhoso, mas será – e isto prometo eu – um blog esforçado. Quanto à piada fácil, a partir de hoje tem os dias contados. Aliás, há já alguém encarregue de contá-los. Viram? Piada inesperada e rica! É disto que eu falo. A partir de hoje, deixam portanto de haver textos sem piada neste blog. Uma maneira segura de atingir esse objectivo seria deixar mesmo de haver textos, mas isso assim não teria piada. E como, a partir de agora, só se pretende ter piada, isso não seria uma boa opção. Aliás, a única boa opção seria contratar gente com piada para escrever aqui. Ou então brincar com a língua portuguesa, que é algo que garante sempre piada, e escrever frases, por exemplo, sem concordância entre sujeito e predicado, para que as pessoas possamos sentir a verdadeira abrangência do humor inteligente. Isso sim, era matéria ganhadora. Melhor seria difícil. Enfim, o que é certo é que as pessoas têm hoje em dia uma necessidade extrema de rir e o humor que andam a vender tem cada vez mais exigências. Da parte da gerência deste blog, tudo faremos por agradar os nossos clientes. Por isso, o pessoal anda a tentar evoluir. Segundo estudos que fizemos, uma das coisas que anda aí na berra é o condicionalismo intuitivo. Daí este texto usar dezoito vezes (com o título, dezanove, com esta, vinte, e com as que vêm a seguir, vinte e tais) a palavra “piada”. Mesmo que não queiram rir, as pessoas são confrontadas tantas vezes com a palavra “piada”, que acabam, inconscientemente, por achar mesmo piada. Houve um caso ou outro no qual a pessoa, em vez de achar piada, achou que era o Robert Redford no África Minha, mas isso são consequências naturais deste tipo de experiências. Para concluir, nem tudo o que o povo diz é consensual. Dizem que fazer humor não é fácil. Tudo bem! Mas também dizem que criar um filho não é fácil e os chineses não pensam necessariamente assim...