Ai, ai, o Natal...
Antes de mais, queria desde já desejar uma Feliz Páscoa a todos e um Bom Ramadão. Bom, nesta quadra Natalícia, o que tenho para dizer é o seguinte: “Morte aos duendes!” Eu sou uma pessoa de bem, mas é preciso exterminar certos seres. Por isso, façam favor, senhores matadores de duendes, de cumprir o vosso dever. Ainda por cima, é uma coisa que até se faz bem ao som dessa grande música desta época que é o Samba.
Passando agora para coisas menos sérias, enquanto mastigo uma amêndoa de natal, queria dizer que acabou de começar essa grande época que é o Natal. Bom, antes de me centrar no que queria dizer, gostaria de referir que a expressão “acabar de começar” é das coisas que, certamente, colocam Portugal na cauda da Europa. Acredito até que grande parte dos fundos que a União Europeia nos recusa se prende com o facto de empregarmos expressões como essa. É isso e não sermos capazes de aniquilar todos os duendes que andam à solta no nosso país. É que, no fundo, “acabar de começar” demonstra que não sabemos muito bem às quantas andamos. Eu até percebo que os empreiteiros usem isso, sobretudo porque raramente sabem se uma obra está a começar ou a acabar, mas o resto da malta e, sobretudo, os duendes não tem desculpa. Enfim, deveríamos usar muito mais vezes, isso sim, expressões que dessem “muito pouco” trabalho a entender. Bom, mas o Natal acaba de começar. E perguntam Vossas Excelências: “E como é que sabes, ó palhaço?” Bom, em primeiro lugar, sem querer responder a provocações, palhaços são vocês e as p**** das vossas mães! Depois, sei-o porque vi na televisão. Estava a fazer zapping e, de repente, pumba! Um canal enfeitado com símbolos de Natal! Mas mesmo que não o descobrisse dessa maneira, haveria de lá chegar. Era uma questão de tempo. Isto porque este país dá muita importância a esta altura do ano. Vamos a factos? Ou vamos primeiro perfurar um pulmão a um duende?
Bem, em primeiro lugar, somos o que somos, mas nem isso nos impede de ter a árvore de natal mais alta do mundo. Grandioso feito para o nosso país! Desconfio até que é ali que os duendes se escondem. Isto porque, toda a gente sabe, os duendes vivem em ninhos, entre a folhagem das árvores. Por acaso, outro dia, enquanto via algumas fotografias do Terreiro do Paço no século XVIII, foi com alguma perplexidade que constatei que, naquela altura, o fervor natalício no nosso país não era tão grande, uma vez que não havia árvore para ninguém e muito menos duendes para pontapear. Isto demonstra que o Natal só é levado a sério de há uns tempos para cá. Também pode demonstrar, talvez, que as fotografias tivessem sido tiradas noutra altura do ano, mas não há certezas quanto a isso. Ou pode mesmo mostrar que os duendes imigraram para o nosso país apenas nos últimos duzentos anos.
Em segundo lugar, temos o mítico programa “Natal dos Hospitais”. É das coisas que há mais tempo me intrigam, este programa! Só nunca percebi por que é que, a meio da emissão, não há um duende a ser executado na guilhotina. Lembro-me de estar a sair de dentro da minha mãe, na maternidade, e de perguntar ao médico: “Ouve lá, meu, que é isso de Natal dos Hospitais?” Depois ainda acrescentei: “Por que é que estou de pernas para o ar? Põe-me já de pé, ou enfio-te uma patada nos dentes!” Enfim, qual é a necessidade de se exibir um programa especial para quem está hospitalizado? Mais um bocadinho e faziam-se também o “Natal das Penitenciárias”, o “Natal dos Conventos”, ou ainda o “Natal dos Cemitérios”. Uma coisa que tenho quase a certeza que será o próximo êxito da TVI é o “Natal dos invisuais que pedem esmola no Metropolitano”. Além disso, lembro-me perfeitamente de detestar esta altura do ano exactamente porque o Natal dos Hospitais impedia a transmissão dos desenhos animados. Ora, se esta época é também, e principalmente, para as crianças, não vejo como o João Pedro Pais ou a Romana podem substituir os bonecos dos putos. Mas, desde que não meta produções nacionais com duendes, por mim tudo bem. E se é para fazer chegar o Natal a todos, eu aplaudo.
Aplaudo também a hipocrisia que significa lembrarmo-nos, uma vez por ano, dos necessitados. E isto remete-me para o terceiro exemplo do nosso acirrado espírito natalício. Há malta que passa fome e frio durante todo o ano, mas que sabe que na noite de Consoada, por obra e graça de pessoas de grandes corações, terá a sua sopinha quentinha à sua espera, paga por uma autarquia ou por uma colectividade que se lembra que até parece bem ajudar os pobres coitados. Convém é não se atrasarem. É que se chegarem depois da meia-noite, já sabem: são mais 365 dias de penúria até que voltem a lembrar-se que existem. Além disso, correm mesmo o risco de, no ano seguinte, perderem a ceia para um duende que chegou primeiro e que ninguém conseguiu espezinhar a tempo.
Em quarto lugar, temos os acidentes rodoviários. Não há nada como o Natal para disparar a taxa de mortalidade na estrada. Há quem diga que o Natal é um evento criado unicamente para fins comerciais, uma vez que em nenhuma outra altura do ano as pessoas gastam tanto dinheiro. Sinceramente, eu acho que funciona muito melhor como regulador demográfico. Acredito ainda que, se não tivessem inventado métodos contraceptivos, por esta altura já havia 3 ou 4 Natais por ano. Isto tudo porque as pessoas não têm consciência na estrada. Ainda se fosse para apanhar duendes pelo nariz a duzentos à hora, ainda compreendia que se andasse a essas velocidades, agora assim não… Há alturas em que tenho até a seguinte ideia: “Hoje apetece suicidar-me! Pena é não ser Natal, se não pegava no carro e fazia-me à estrada!”
E, para finalizar, em quinto e último lugar, nunca poderia esquecer-me deste dia porque é nesta altura do ano em que a figura do anafado do Pai Natal desce pela minha chaminé. E perguntam vocês: “E tu, com essa idade, ainda acreditas no Pai Natal?” E respondo eu: “Claro que não! Mas também não vou dizer ao meu pai que sei que é ele, se não ele fica triste e depois tenho que lhe dar colinho.” E além disso, não vou querer chateá-lo, ou ele manda os duendes para me lixarem a vida…
1 Comments:
Gostaria que um comentário a um texto meu tivesse tanta piada como o comentário anterior, mas creio que não tenho talento para isso...
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