Viagens no tempo
Estamos a aproximar-nos daquela altura do ano em que se cumpre o mais estúpido dos rituais humanos. Não, não me estou a referir ao São Martinho e aos comas alcoólicos originados pela água-pé nem à romaria servil do povo às urnas. Estou, sim, a falar dessa peculiar cerimónia na qual todos os homens e mulheres do país participam e que se usou designar por “mudar a hora”. Meus amigos, o que é isso? Eu sei que é, provavelmente, o acto que nos torna mais parecidos com Deus, mas, tenham paciência, isso é estúpido! Não sei se estariam à espera disto, mas vou ter que revelar-vos o seguinte: vocês mexem nos vossos relógios, alteram a hora e tal, mas o tempo continua na mesma. Não é por isso que ganham tempo. Mas mais estúpido é que a malta muda a hora agora e depois volta a mudá-la daqui a uns meses, ajustando-a para que fique como estava antes. Primeiro desacerta-se a hora e depois torna-se a acertá-la? Qual é a ideia, afinal? Será que, ao fim de algum tempo, a malta arrepende-se e decide voltar a deixar tudo como estava? E será que expiam a ousadia de mexer no tempo ao corrigirem-no? Ou será que é para mostrarmos ao tempo quem manda? “Estás a ver, Tempo? Agora, estou uma hora à tua frente e tu não podes fazer nada.” Será que é para baralharmos o próprio tempo, para que ele não saiba às quantas anda? Ou será antes que adiantamos a hora para que, durante esse período de tempo, nos possamos atrasar até uma hora e ainda assim chegarmos a tempo? Não sei se serei só eu a pensar assim, mas isto parece-me uma das mais disparatadas atitudes da sociedade moderna. Quer dizer, o Homem descobriu maneira de quebrar a barreira da velocidade do som, vai à lua e vem em 4 ou 5 dias, cada vez tem computadores mais rápidos e telefones que permitem estabelecer comunicações instantâneas entre dois pontos opostos do planeta, e ainda assim precisa de roubar tempo ao tempo? E qual é a daqueles chicos-espertos que não acreditam que o Homem pode viajar no tempo? Meus senhores, o homem já o faz! Duas vezes por ano! Só não percebo é por que é que é apenas uma hora para a frente ou uma hora para trás. Será que há regras? Será que Deus, quando permitiu que os homens mexessem no tempo, lhes disse “Vê lá o que é que fazes, ó Homem! Podes mexer no tempo, desde que o ponteiro mais pequeno não dê uma volta! Mais que isso, avarias-me aí a cebola e depois é uma chatice para encontrar um relojoeiro aqui para estas bandas.” E o homem, como até é um bicho pouco curioso, cumpre. E, da mesma maneira que o Homem brinca com os ponteiros do relógio, também inventa um dia a partir do nada, de quatro em quatro anos. E é por isso que eu pergunto: se podemos adiantar ou atrasar a hora, criar do nada mais 24 horas, brincar, enfim, como bem nos apetece com o tempo, domesticando-o a nosso bel-prazer, por que razão é que nós, portugueses, em vez de aproveitarmos esta benesse dos céus para visitarmos outros tempos, outras culturas, outras civilizações, fomos logo escolher voltar 20 anos atrás para revermos peles engelhadas e ideias retrógradas a concorrerem a Belém?
1 Comments:
Para quem não sabe mesmo porque se faz isto, é para aproveitar melhor a energia do sol nas horas de trabalho e assim poupar electricidade. Deixo aqui um excerto da entrada na Wikipedia referente ao procedimento:
Daylight saving time (also called DST) is the North American term for a system intended to "save" daylight (the British observe summer time, and likewise the Europeans). The official time is adjusted forward, (usually) one hour from its official standard time, remaining that way for the duration of the spring and summer months. This is intended to provide a better match between the hours of daylight and the active hours of work and school.
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