And now for something completely different
Afinal, quem é o rei da selva? O leão? O estorninho? David Attenborough? Também não interessa. Venho aqui hoje com um propósito firme. Venho, pois, dar a conhecer ao mundo uma pessoa singular, ou seja, alguém que não é plural. Sem mais demoras, eis a entrevista que foi possível com… um provinciano…
EU: Senhor Justiniano Maçarro, o senhor é…
JM: Amílcar!
EU: Han??
JM: Amílcar Maçarro. Justiniano Maçarro é o meu irmão, que não pôde bir.
EU: ???
AM: Não há problema, né?! É que ele tebe que resolber um assunto inadiábel, que é como quem diz… vamos lá ber… que não podia mesmo adiar, e… não pôde bir. Mas se quiserem, ele bem cá amanhã!
EU: Mas foi alguma coisa grave?
AM: Hmmm… Foi! Foi um problema de bida ou de morte! Quer dizer, neste caso, foi só de morte, porque morreu…
EU: Morreu??
AM: Sim, é uma coisa que lá na nossa aldeia dá muito a quem tá bibo. Mas não se preocupe que ele amanhã tá cá a horas! Apanha o Expresso e põe-se cá num instantinho…
EU: Mas se morreu…
AM: Ouça, fazemos assim: hoje fala comigo e amanhã logo lhe pergunta o que lhe aconteceu, pode ser? É que ele é meu irmão, mas nós não gostamos muito de nos metermos na bida uns dos outros. Ele morreu, é berdade, mas isso é lá com ele. Se quiser contar o que aconteceu, muito bem, sou todo oubidos. Se não quiser, tenho que respeitar. Já é uma tradição de família, sabe? Há já dois anos que o nosso pai morreu e até hoje ainda não nos disse como foi, por isso beja…
EU: Bom, então se calhar esta entrevista ficava por aqui, não?
AM: O quê? Então bim eu lá da terra para falar consigo e agora manda-me embora? Faça lá as perguntas, homem! Também não é a morte de um familiar que me bai deitar abaixo…
EU: Bom, já reparei que trocas os “v’s” pelos “b’s”?
AM: Eu? Não! Você é que troca!!
EU: Eu? Desculpe, mas está equibocado…
AM: Olhe! Viu? Não disse?...
EU: Ah, isso sou eu que me engano a redigir… Pronto, daqui em diante não volta a acontecer… Senhor Amílcar Maçarro, o senhor é um homem singular! Em que medida?
AM: Não sei bem…
EU: O senhor é, assumidamente… homossexual!
AM: Eu? Não! MARICAS É O SENHOR!
EU: Desculpe! Troquei os papéis… O senhor é, assumidamente… provinciano!
AM: Sim… É verdade, tenho de confessar. Eu assumo: sou Provinciano!
EU: E é provinciano de onde?
AM: Eu sou provinciano mesmo da… prontos… da província…
EU: Sim, mas de onde??
AM: Olhe, não lhe sei dizer. A verdade é que não sei. Como já reparou, não sou de fazer muitas perguntas. De maneiras que nasci na província, cresci na província, casei na província, joguei pela primeira vez ao chinquilho na província, mas não sei de que província se trata.
EU: E não tem curiosidade?
AM: Agora que fala nisso… não!
EU: Bom, e que mais é que me pode dizer sobre a província?
AM: Assim, de repente… hmmm… mai nada… Posso é falar de uma vez em que quase vi o mar…
EU: Bom… não era esse o nosso tema...
AM: Mas olhe que é uma grande e magnífica história, senhor!
EU: Ah, sim?
AM: Não, mas convém dizer isso para as pessoas pensarem que sim.
EU: ???
AM: Foi um dia 23 de Novembro… Minto! 23 de Fevereiro, assim é que é. Não! Foi por alturas da apanha da azeitona, assim é que está certo. É assim é, que eu até tive de faltar ao aniversário do Tozé e depois nem uma fatia de bolo me mandou, o sacana…
EU: O Tozé também é provinciano, estou certo?
AM: Da parte da mãe não… E da parte do pai… hmmm… também não…
EU: ???
AM: Bom, dizia eu que andava tudo com vontade de fazer uma excursão. Curiosamente, queria tudo era ir ver as amendoeiras em flor, coisa que a mim não me interessa, pois as amêndoas a mim não me dizem nada. Sou mais de avelãs. Nozes também gosto, mas a avelã é o fruto seco dos frutos secos. Assim, foram todos para as amendoeiras e eu fiquei sozinho na aldeia, com o Alcino.
EU: E o Alcino, é provinciano?
AM: Não, é padeiro…
EU: ???
AM: Continuando… Viro-me para o Alcino e digo: “Ó Alcino, e se fôssemos ver o mar?” E responde-me ele: “Para quê?” Como vê, chegámos rapidamente a acordo. Pegámos no burrico da Ti Amélia e fomos.
EU: Se a Ti Amélia tem um burro, posso concluir que é provinciana?
AM: Nem por isso… Ela julga que é, mas tenho cá para mim que é mas é a ciática…
EU: ???
AM: Prontos, saímos lá da província e tínhamos por missão alcançar o litoral e ver o mar. Queríamos ver as gaivotas à beira-mar, a areia fininha das praias, o azul do oceano, os casais de namorados de mão dada, os traquinas…
EU: E foram até onde?
AM: Chegámos quase a Vilar Formoso. Quer dizer, estou a exagerar, ainda ficámos um pouco longe…
EU: Então e é só isso, a história?
AM: E não lhe chega, homem?
EU: Mas você disse que quase viu o mar.
AM: Estivemos perto, não estivemos? Foi falta de sorte. Com condições climatéricas favoráveis, teríamos alcançado o nosso objectivo. Infelizmente, naquele dia, o céu estava assim um pouco… como defini-lo?...semi-cerrado… Tinha uma nuvem, prontos… E isso atrasou-nos bastante…
EU: Parece-me uma história vulgar.
AM: Vulgar?? Não, nada disso! Vulgar foi aquela vez em que quase vi Deus!
EU: Quase viu Deus?
AM: Sim, quase! Posso contar?
EU: Não!
AM: Então foi assim… Ia a passar, à noitinha, junto à ribeira… e que vejo eu? Uma luz! Pensei logo: “Milagre, é o Nosso Senhor!” Mas depois era apenas o Felizberto, com uma lanterna…
EU: E esse Felizberto, por acaso não é provinciano?
AM: Também não! É canhoto!
EU: Então deixe ver se percebi… Lá na província, o único provinciano é você, certo?
AM: Não! Na verdade, sou uma fraude! Sou um advogado de meia-idade que, de vez em quando, gosto de me fazer passar por provinciano.
EU: Não me diga!
AM: Não lhe digo o quê?
EU: Então estivemos a perder o nosso tempo, não foi?
AM: Também não diria tanto… Mas se quiser, para compensar, posso contar a história daquela vez em que quase vi uma menina nua…
EU: Acho melhor não… Fica para uma outra vez…
AM: Mas olhe que é uma grande e magnífica história, senhor!
EU: Deveras?
AM: Não, de Madalenas… Eram duas meninas…
EU: Fica para uma outra vez, senhor Amílcar!
AM: Não, escute… Era dia de São Olimpío…
EU: O quê? São Olímpio? Mas isso não existe, homem!
AM: Não existe?? Não existe?? Tem razão. Era dia de São Fialho!
EU: Você está a inventar isso…
AM: Ai é? Ai é? Ai é? Então não digo mais nada… Nem sequer conto a história daquela vez em que quase fui entrevistado para um blog sem piada…
1 Comments:
Nada mau. Nada mau mesmo. Será que os Gato fedorento aceitam sugestões? Este era mt bom para eles. :)
Blaken Dorf
Enviar um comentário
<< Home