sábado, março 19, 2005

Agora vou... Agora já não vou...

Fátima Felgueiras disse que vinha a Portugal porque só com a sua presença o seu julgamento teria sentido. Porém, depois de saber que, assim que pisasse solo nacional, seria imediatamente levada sob custódia, uma vez que a decisão de prisão preventiva se manteve, voltou atrás e disse que, para já, continuava no país irmão a apanhar banhos de sol e a mamar caipiroscas. Mas afinal o que vem a ser isto? Primeiro ela diz e depois desdiz? Que país é este em que alguém diz e depois diz que não e quando se vai a ver já disse outra vez? Mas que é isto? É que se assim é, qualquer dia, alguém diz que “isto é assim”, vem outro e diz “que não”, depois chega mais um e diz que “assim não mas de outra maneira talvez”. Então mas que raio é isto? Ela quer vir, mas depois já não quer vir; depois quer vir outra vez, mas quando dá por si, prefere já não vir; mais à frente, lembra-se que gostava imenso de vir, mas como está cansadita, decide não vir. E nós ficamos naquela: mas então como é? Já estamos a abusar, não? Sou só eu que acho que ela continua a troçar de tudo e todos? Qual será a próxima declaração? Será que vai chocar o país ao dizer, chorando em pleno directo, que está inocente? (Se bem que isto podia parecer um bocado repetitivo e perder um bocado da força que se desejaria.) Ou irá apresentar testemunhas tão credíveis como o Major Valentim Loureiro ou o Sapo Cocas? Eu até acho bonito e tal a cena de ela dizer que a sua presença era essencial para a seriedade do julgamento, mas alguém acredita que ela não diz isto a fazer figas e a conter uma gargalhada? Tenham lá paciência, mas era de actrizes assim que as novelas da TVI estavam a precisar. E não é que o pessoal de Felgueiras acredita mesmo que a mulher é uma santa! (Pronto, estes são também, provavelmente, aqueles que não acreditam que o Homem foi à Lua, ou que pensam que iogurtes com pedaços são ficção científica.) Mas também não admira. Ao que lhes foi comunicado, o problema era um tal de “saco azul”. Ora, é crime meter a mão num saco, ainda por cima azul? É óbvio que não. Como tal, e como ela até nem tem cara de quem é capaz de fazer mal a alguém, só pode ser inocente! Sim, porque a população de Felgueiras, além de dotada de uma inteligência superior à de maior parte dos seres humanos, tem também o simpático dom de saber reconhecer, recorrendo à percepção extra-sensorial com que foi prendada à nascença, a inocência ou a culpa de determinada pessoa. Eu até aposto que, perante gente tão inteligente, mesmo que ela confessasse que se estava nas tintas para o seu julgamento e que se estava nas tintas para Portugal e para os portugueses, continuava a ser inocente. E digo mais: se essa senhora voltasse a Portugal e trouxesse consigo outro dos insignes representantes no estrangeiro da competência do nosso sistema judicial, o Padre Frederico, eram ambos recebidos em Felgueiras em ombros. Tudo porque – e é isto que vale a pena reter – o povo usa e abusa de sabedoria; e, enquanto o povo souber tanto, jamais os verdadeiros criminosos terão vida fácil...