segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Irmã Lúcia

Quando toda a gente seguia com atenção o estado de saúde periclitante do Papa João Paulo II, quem parece ter falecido foi outra das peças de museu da nossa época, a Irmã Lúcia. Antes de mais, queria fazer algumas perguntas. A primeira que me vem à memória é: Quem? Depois, gostava também de saber de quem é que ela era irmã. É que isto de se andar a dizer que a Irmã Lúcia isto e a Irmã Lúcia aquilo e não se proferir nunca o nome do irmão ou da irmã não é nada. Pronto, admito, a senhora tinha o seu valor, até porque aguentar até aos 97 anos sem se descair uma única vez é obra. Só ao alcance de alguns políticos! Tudo bem, ela morreu. E ao que soube, no mesmo dia, morreu também um Teodoro, meia dúzia de Joaquins e, ainda faltando apurar alguns óbitos, mais de meia carrada de portugueses. O que eu queria agora perguntar era: ela tinha os impostos em dia? Sim, porque isto de se ver Nossas Senhoras e Milagres e tal deve ser coisa para levar com grandes taxas. Queria também perguntar isto: Por que é que, quando somos pequenos, nos dizem que mentir é feio se há quem seja beatificado por isso? Outra pergunta pertinente é: o que é que aconteceu, nesse mesmo ano de 1917, uns meses antes dessa primeira aparição, sem ser o Réveillon de 1917? Há depois também a questão das questões, que é: Por que é que, entre tantas profissões possíveis, a Nossa Senhora decidiu aparecer a pastores? Há quem diga que era por ser gente humilde e não sei quê. Será que o nível intelectual da população rural da altura influenciou a escolha? É que, se não, podia muito bem ter aparecido ao Sidónio Pais para lhe dizer que se desviasse do tiro com que o matariam no ano seguinte. E porquê a menores de idade? Será que não tinha medo que o Bibi também se chibasse dela? Outra coisa que não cheguei a apurar sobre essa história foi: o ópio estava na moda na altura, não estava? Sendo assim, seria plausível acreditar que, nestes últimos anos, ela não esteve num convento, mas sim numa clínica de reabilitação. Bom, muitos dirão: Ah, lá estás tu a ser parvo! O que eu pergunto é: Fui eu que andei a dizer que vi uma gaja a voar e umas luzes maradas? E a quantidade de pessoas que foram velar o corpo da senhora? Ao que soube, metade eram arqueólogos com especialização em fósseis. De qualquer maneira, imagino que a Brisa tenha encaixado bastante dinheiro nas portagens de todo o país, uma vez que afluíram pessoas de todo o lado. Aqui já dou razão à malta que diz que ela era importante. Creio até que não se registava uma subida tão grande na economia nacional desde que morrera aquele outro santo... o... como é que ele se chamava? Ah! Salazar, parece que era isso. Apesar de tudo, há muitas ilações que se podem tirar de tudo isto. Primeiro, é falso aquele provérbio, “mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo”. Depois, podemos também concluir que a palavra "fé", além de ser dos substantivos comuns mais pequenos que há, continuar a somar acepções: desta feita, adoptou os significados de “cegueira colectiva” e “imbecilidade congénita”. E depois, querem lá ver que ela morreu precisamente no dia 13! Isso é que é pontualidade! É impressão minha ou é a isto que se chama “atirar areia para os olhos” da malta. O que eu ouvi dizer foi que o Arafat só foi dado como morto umas semanas depois de ter morrido de facto, mas isso é outra história...