Viva Portugal

Apetece-me dizer o seguinte: Arre!! Ahhh… Estou bem melhor, agora… Ai, ai… Que país tão bonito, este em que vivo… Somos mesmo um povo desenvolvido. E original… Quem é que se ia lembrar de pôr bandeiras nas varandas? Tudo bem, os brasileiros já fazem isso há uns anitos, mas são um país de terceiro mundo e não contam. Uma coisa que verifiquei hoje: querem lá ver que temos, por esta altura, mais bandeiras de Portugal nas varandas do nosso país do que emigrantes brasileiros!!! Somos mesmo bons. Pomos mais bandeiras em varandas do que qualquer outro país no mundo, fazemos logótipos humanos maiores e melhores que qualquer outra nação. Até somos o povo que queimamos mais mato durante o estio. Há pouquíssimas coisas em que não somos os melhores do mundo. Aliás, diria mesmo que não há nada verdadeiramente importante em que não sejamos os melhores. Ao senhor leitor peço, portanto, três vivas por Portugal. Vá, diga comigo: “Viva Portugal! Viva Portugal! Viva Portugal!” Que grande pátria a nossa! Que orgulho! Que grande orgulho ser português! Ah, viva os pelintras do Cais do Sodré! Viva os marialvas das marchas populares! Viva os hílares taberneiros e os mecânicos vigaristas! Viva a gente rude, os camponeses de dentes podres e os não escolarizados! Viva os que falam axim! Viva! Viva! Viva! Viva Portugal! Depois deste momento melancólico, preciso de me alegrar. Direi, portanto, alto e em bom som (que são coisas completamente distintas), o seguinte: “Viva o povo português!” Ah, tanta e tanta e tanta gente de boa índole neste país! Fantástico! Deus fez tanto país (se não foi ele, foi o Abrahmovic, porque não estou a ver mais ninguém com poder para isso) e foi no nosso que nasceram tantos homens e mulheres de qualidade! Estou mesmo contente connosco. Estou tão contente que estou a ter uma erecção. Ah, não, era o telemóvel… Enfim, não sei se já disse, mas se não disse, digo-o agora: “Viva Portugal!” Queriam os americanos ser como nós! Queriam, mas não conseguem… Sim, que isto de colocar bandeiras em varandas não é para quem quer, é para quem pode… Tá bem, tá! Têm poder bélico? E depois? Já viram algum porta-aviões com uma bandeira americana na proa? Ah, pois é!! Somos os maiores, pá!! Se estiveres a ler isto, ó Bush, esta é para ti: “Quantas quinas tem a tua bandeira, hein? Quantas? Quantas? E castelos? Querias… Batatinhas com enguias… Toma! Toma!” Somos os maiores! Ou melhor, os Máiores… Viva Portugal! Viva a ciganice!! Viva o mau hálito e o odor corporal! Viva a cretinice! Viva! Viva os bancários de gravatinha! Viva os cauteleiros! Viva o analfabeto que vende DVD’s na feira de Carcavelos! Viva os seguranças e viva a articulação correcta das palavras “não pode entrar porque vem de ténis e porque eu sou mais forte que você!” Viva o nosso país! Viva caras de bacalhau e feijoada à transmontana! Viva gritar ao telemóvel! Viva o sotaque do Rio de Janeiro! Viva os roliços! Viva os carecas! Viva! Viva Portugal! Viva as mulheres de bigode! Viva as varizes! Viva! Que grande povo! Afinal, descobrimos meio-mundo! Escapou-nos a metade que se desenvolveu, mas pronto… Ai, ai… Mas o que eu queria mesmo ser, quando fosse grande, era motorista de autocarro, que era para poder pendurar uma bandeira de Portugal no vidro da frente, ser malcriado para os passageiros e chegar à noite e torcer pela nossa selecção, que, já agora, merece mais um “Viva Portugal!” Vamos lá, malta! Vamos até à final, que desta vez a Grécia não está cá…