sexta-feira, julho 11, 2008

Por que é que já ninguém acredita na Física?

Hoje, no metro, um desconhecido, vindo não sei bem de onde, interpelou-me e fez-me a seguinte pergunta: "Por que é que já ninguém acredita na Física?". Franzi o sobrolho e pensei: "Ui, vou ser catado!" Mas, quando torci o olhar, vi um tipo pequeno e sorridente e pensei: "ao menos porrada não devo levar!". Como quem não quer a coisa, e porque vi que ele esperava uma resposta, disse, mostrando-me interessado: "Han?" O tipo, calmamente, voltou a perguntar: "Por que é que já ninguém acredita na Física?" Ponderei dois segundos sobre uma resposta possível, mas não me ocorreu nada de relevante. E, dada a estranheza da situação, nem sequer entendia a que se estava a referir. Reparei então que à minha frente ia uma mulher. E também ia um rabo. Imaginei, como tal, que a pergunta se referisse à mulher em causa e que o tipo ia, de seguida, fazer um comentário "porcalhão" sobre o rabo da senhora. Nada disso. "Já ninguém acredita na Física", continuou o tipo, "mas tudo é Física". "Profundo", pensei. E, àquela hora, o que eu precisava era mesmo de pensamentos profundos. "As pessoas pensam que é uma tecnologia ultrapassada, mas não é", disse. Tecnologia? Bahh! Podia ser gatuno, mas não era lá muito esperto. Toda a gente sabe que a Física não é uma tecnologia, mas uma disciplina em que se faz ginástica e joga à bola. Pensei em corrigi-lo, pois considerei que era gente que merecia aprender, mas depois optei por não o fazer. O tipo ainda se chateava e nem com os documentos me deixava ficar. Por isso, calei-me. Estávamos, por esta altura, a chegar às escadas rolantes, pelo que ele continuou a sua explicação: "tudo é Física. Isto [apontava para as escadas rolantes] é Física, não é?" Aquela afirmação, a pedir o meu acordo, fez-me pensar que, se alinhasse no jogo, talvez até me safasse com o telemóvel. Soltei um tímido, mas assertivo "Pois!", que é daquelas respostas que dá para tudo. E, para meu espanto, o tipo não me voltou a dirigir a palavra. Enfim, fiquei sem saber por que é que já ninguém acredita na Física (caso alguém saiba, é dizer, se faz favor), mas ao menos não fui roubado. Por outro lado, fiquei a saber que nem sempre quem se mete comigo no metro é bandido; às vezes pode ser só um tipo com dúvidas.

P.S. Não encontro o telemóvel. Será que era carteirista?